terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Menino de Beira

Porções de mar invadem
a parte que me cabe do Sertão
Não impedem nada de brotar
mas me tiram o ar de ser tão
Talvez venham me convidar
Pra algo diferente
onde andar não seja exatamente
Me recuo numa faixa de areia
É a ressaca de algo novo
Bonito demais
Que esbraveja alto demais
em cada quebrada de onda
E eu, menino de beira
fico ainda pensando
Se submergir se parece com afogar

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Não tenho paciência pra Deus Padeiro

“Tudo começa quando eles acham que o mundo foi criado do dia para noite, em sucessões de acontecimentos que cabem em uma semana. Como se Deus tivesse uma fôrma diferente para cada uma das milhares de espécies. Seguem uma visão prática, Deus, caderno de receitas e benevolência. Eis que está assado o mundo.

Ignoram os meios, como se não existissem. Passam direto da idéia panificadora para a porta do forno aberta. Os meios são importantes, eles sempre justificam os finais. Na subseqüente conseqüência de um fato, sem os meios, não há um final.

[...]

Eles, fornalha de pão francês, são tradicionais, comidos com manteiga todas as manhãs, e Deus com suas mãos de biscoiteiro profissional é quem modela os destinos.

São populares, de gosto popular, e por isso tão perigosos. Morrem de medo dos pães com recheio, Olha, aqueles ali tem conteúdo, Deus não gosta, tem o paladar difícil e sofre de azia.

A padaria é sempre cheia, a vizinhança não reclama, alguns até passam pra conferir as bucólicas vitrines. Sempre a mesma receita, onde os queimados, com fisionomia diferente, são descartados.

Não sucumbem às tentações das tortas doces, nem sequer aceitam dividir a mesma estufa. Tentação, mesmo que em formato de torta merece ir para o processador de alimentos.

São escravos da temperatura dos fornos, regulada por mãos hábeis, assados por fora, mas crus por dentro...”

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Amanhã é dia primeiro

Seus olhos parecem que saltam aos olhos, porque são olhos de quem vê. Eu, fumaça soltada pela boca e narinas, que embaçam os olhos quando olho pra você. A fumaça te deixa bonita, mais atraente e a minha mente aberta, certa que esta disposta. Te olhar por alem de uma parede quadriculada, que me cotidiana. Rejunte dessa colcha de retalhos. Alhos, cebolas, temperos e todos os jeitos pra te conquistar. Mas quem é você? Dentes, bocas e sorriso que faltam peças. Eu te adoro e te espero, como se espera o final das novelas, como se pede em novenas. Eu falo de amor, com o mesmo amor que eu falo de religião, resignando, mas esperando pelas duas revelações. Raposa sem caça, polícia sem lei, distrito sem fronteiras. Um único país. Passaporte carimbado pros sem destinos, caído na imensidão do que me espera.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

De tempos em tempos apareciam na minha porta abelhas, eu relutava, Mas Deus, abelhas? Na primavera eu colhia as flores.

término, parte 1

Levantei, acendi um cigarro, o que sobrou de um, de palha. Traguei fundo enquanto ele se manteve aceso, até ser só palha e se apagar entre os meus dedos. Olhando ainda pela janela da sala, arremecei, tentando ser preciso, vendo-o voar em espiral, carregado por um vento que eu não sabia ser permitido para essa noite. Recuei. As mesmas luzes que de hábito acendo, apaguei; a primeira, fazendo o caminho inverso. Uma subta vontade de colocar a mão sobre a boca, como em concha, baforejar e sentir meu hálito de tabaco seco, que é seu cheiro. Me recusei. Quase quis chorar. Me recusei. Apaguei a segunda lampada e a terceira. Acendi a do quarto e vi a cama da qual me levantara - no travesseiro tambem seu cheiro, de bebida barata, de boca seca de saliva, de quem batia a minha porta depois de entregue aos prazeres da noite; e dormia um cansaço ébrio e pesado. Dormia comigo, abraçado por tras. Um corpo suado e o meu que começava a suar pela intença aproximação. Quis trocar toda a roupa de cama. Chorei. Horas antes tinha jogado sua escova de dentes fora, num ímpeto - se pensado não se findaria. Uma forma de, aos poucos, ir me desvencilhando dos laços materiais que apertam demais os sentimentos. Agora eu vejo o quanto eu demorei a chorar e só queria que essas lágrimas que brotam de tempo acumulado descessem pela minha garganta, alcoolicas, como marguerita de dose desregulada de tequila e fosse eu, então, a dormir, ébrio e pesado; tranquilo, suando meu próprio suor, acordando limpo.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Capítulo 46

No jornal do fim do dia, vinha escrito em letras garrafais que os minutos do tempo pedido se convertiam em quilômetros a cada volta do relógio. A foto me lembrava qualquer coisa colorida, ou que havera de ser. Eu virei a página e foi como se me revirassem o estômago. Os cadernos se passaram com suas chamadas no rodapé. Enfim chegou, chegou no outro dia. As linhas feitas de suas frases. Chegou o fim da nota, nada mais de quatro folhas, frente-verso.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

21 anos

E agora que eu tenho 21 anos
sinto alguma coisa pesar
e tantas coisas faltarem
Eu cabia ainda nos 17
Era quase tudo certo
eu era quase esperto,
Tinha os momentos de graça
De quem era quase menino e quase crescido

O tempo vem aumentando os nossos espaços
que deveriam ser preenchidos com as coisas
Que durante o tempo
A gente deveria ganhar

Meus espaços tem eco,
tem um chão de tábua corrida
Não tem janelas abertas
Estão à meia luz de uma velha
que eu chamo de Consciencia
ou Consuelo quando eu não a desejo chamar

Tenho 21 anos de idade
com só o desejo crescido